Estudante indígena da UFSCar lança livro Boloriê: a origem dos alimentos

Contar uma história milenar de seu povo para conhecer mais sobre seus antepassados. Esse é um dos motivos que levou o escritor indígena e aluno do curso de licenciatura em Letras da UFSCar, Luciano Ariabo Quezo, a escrever o livro "Boloriê: A origem dos alimentos". A obra de literatura infanto-juvenil é uma publicação do Grupo de Pesquisa Linguagens, Etnicidades e Estilos em Transição (LEETRA) da UFSCar e conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

"Boloriê: A origem dos alimentos" é uma narrativa oral, típica do povo indígena Balatiponé, do qual o autor faz parte. O povo, também conhecido como Umutina, está localizado próximo ao município de Barra do Bugres (MT). A história, que conta como se deu o processo de surgimento dos alimentos, começa na aldeia dos Boloriê, onde uma mulher se sentia solitária e desprezada pelo seu marido. Ela não podia dar à luz um bebê mas confiava na força do Criador, Haypuku, que poderia dar à guerreira o presente que ela tanto queria.

"A história também tem uma função pedagógica de nos fazer lembrar e aprender muitas coisas", afirma Quezo na obra. "A origem dos alimentos é uma das várias histórias milenares do nosso povo Balatiponé, que nos leva a saber sobre a origem dos nossos antepassados, os Boloriê", explica.

Desde pequeno, Quezo rabisca traços no papel e na pele e, agora, resolveu, por meio do livro, desenhar e contar uma narrativa do povo Balatiponé. "Quando eu era abiolô [criança] eu dormia com a minha imako mixotó [avó]. Pouco antes de eu dormir, de fato, ela tinha o costume de contar histórias ou cantar para mim, sem a utilização de livros, músicas gravadas em CDs ou em pendrive, mas histórias e músicas que estavam registradas em sua memória. Esse momento, antes de dormir, é uma das ocasiões em que nós, enquanto crianças, absorvemos bastantes informações, a ponto de sonharmos com o que ouvimos", conta o autor no livro, cuja narrativa comporta termos em língua Umutina. Ao final, a publicação ainda traz um glossário com esse vocabulário Umutina.

O lançamento da obra ocorreu na tarde do dia 10 de dezembro, na Sala de Projeções do Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH), área Sul do Campus São Carlos da UFSCar. O evento foi promovido pelo LEETRA sob a coordenação da professora Maria Sílvia Cintra Martins , do Departamento de Letras (DL) da Universidade. Martins vem orientando o trabalho de Quezo desde o ano de 2010.

"Boloriê: A origem dos alimentos" apresenta ilustrações do próprio autor e apresenta aquarelas e trabalho digital dos bacharelandos em Linguística da UFSCar, Eld Johonny e Pedro Alberto Ribeiro Pinto. A publicação está disponível para acesso na biblioteca virtual do LEETRA, em www.leetra.ufscar.br/biblioteca.

Duzentos exemplares impressos do livro serão levados para distribuição gratuita na aldeia Umutina/Balatiponé. Martins explica que, no caso deste livro, sua publicação foi financiada por Auxílio Fapesp "A construção de livros bilíngues em correspondência com a lei 11.645/08", coordenado por ela.

Quezo é estagiário do projeto Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), também coordenado pela docente na UFSCar. "Por essa razão, 300 volumes deste livro foram distribuídos de forma gratuita a orientadores de estudo que trabalham na formação de professores alfabetizadores de 78 municípios do interior paulista, incluindo São Carlos”, afirma a professora.

"Boloriê" é o segundo livro de Quezo que, em 2012, publicou "Língua e Cultura Indígena Umutina no Ensino Fundamental", resultado de seu projeto de Iniciação Científica, também financiado pela Fapesp. “Luciano desenvolveu pesquisa de iniciação científica de dois anos sobre a língua e a cultura Umutina e aqui temos uma continuidade, na medida em que esse livro comporta um exemplar de cultura Umutina, algo que faz parte do patrimônio imaterial de sua comunidade de origem”, explica Martins.